Evangelho:
28º Domingo do Tempo Comum, 13 de
outubro de 2024
Marcos 10:17-30
Eu considero
Padre Júlio (pastor dos moradores de rua na cidade de São Paulo) um dos
pastores mais inspiradores desta época. Suas homilias trazem profundidade e luz
para a compreensão das Escrituras e conectam os insights bíblicos ao nosso
mundo de hoje, como poucos outros pregadores que eu tenho ouvido consigam
fazer. As reflexões que seguem misturam minhas próprias perguntas e foco junto
com os insights destacados pelo Padre Júlio.
Artista: Heinrich Hoffman |
O que vem
a seguir no texto é o ponto principal que despertou a minha atenção, talvez de
uma forma que nunca havia acontecido antes. Ajoelhando-se, o homem pergunta a
Jesus: “Bom mestre, o que devo fazer para herdar a vida eterna?” Esta questão
tem sido central para os cristãos e outras pessoas de fé ao longo de todos os
séculos, até ao presente. “O que devo fazer para ganhar a vida eterna?” Agora,
o que me intriga ao prestar atenção mais uma vez a esta leitura do Evangelho é
a resposta de Jesus. Observe que primeiro ele relembra os mandamentos: “não matarás; não cometerás adultério; não
roubarás;
não levantarás falso testemunho; não prejudicarás ninguém; honra teu pai e tua
mãe! E por aí ele para.
Na igreja
e na família cristã onde cresci, a resposta de Jesus não teria sido a resposta
correta para a pergunta. Cresci aprendendo que obedecer a esses mandamentos podia
ser uma demonstração e consequência de uma fé verdadeira que leva à vida
eterna, mas obedecer aos mandamentos definitivamente não era visto como o
alicerce para tal esperança. A resposta correta era acreditar que Jesus morreu
pelos nossos pecados e assim abriu o caminho para a vida eterna. Na verdade,
fui ensinado que alguém que não obedecesse a esses mandamentos poderia, com uma
mudança de coração no último momento, fazer a oração de fé e ter a vida eterna
garantida. No entanto, se acreditarmos o que Jesus está dizendo, obedecermos
aos mandamentos seria de fato uma resposta suficiente.
Contudo,
note também uma omissão na resposta de Jesus. Na verdade, a lei é resumida em
duas partes: “Ame a Deus” e “Ame o seu próximo”. Mas a resposta de Jesus apenas
destaca a segunda parte, ou seja, os atos relacionados com o amor ao próximo.
Pe. Júlio enfatiza que atos concretos de amor ao próximo são, na verdade, uma
evidência do nosso amor a Deus. Se dissermos que amamos a Deus, mas depois
agirmos contra o outro, desrespeitarmos e virarmos as costas para o outro, a
mentira será demonstrada em nossa ação. Podemos afirmar que amamos a Deus, mas
se não demonstrarmos esse amor na nossa vida, devemos questionar se realmente existe
amor verdadeiro ali ou não!
Mas
voltando à história. O inquiridor garante a Jesus que ele seguiu todos os
mandamentos e o fez desde a juventude. Ao ouvir isso, somos informados de que
Jesus responde com amor, dizendo ao homem que lhe falta apenas uma coisa: “Vá”,
diz ele, e “venda tudo o que você tem e dê aos pobres”. E com isso, Jesus
promete: “você terá tesouro no céu”.
Novamente,
em contraste com a resposta de “crença” tão comum no que me ensinaram e na
igreja de hoje, esta parece ser a resposta final de Jesus à pergunta do homem. Doe-se
às pessoas ao seu redor, especialmente aos mais vulneráveis, aos mais
necessitados, e você herdará o que procuras. (Lembro-me de outra passagem do
evangelho onde Jesus ensina que aqueles que alimentam os famintos, dão água aos
sedentos, acolhem o estrangeiro, vestem os nus, cuidam dos enfermos e visitam
os que estão na prisão “herdarão o Reino de Deus.” Mateus 25:31-46) No entanto,
esta resposta de Jesus foi o fim da picada. Ao ouvir isso, o homem vai embora
triste. E é aqui que o narrador nos conta algo mais sobre este homem: “pois ele
tinha muitos bens”. Como ele ganhou seus bens não sabemos. Ele os herdou? Ele
os ganhou honestamente? Ele os conquistou enganando ou explorando seus
trabalhadores? A passagem não fornece essa informação. No entanto, o apelo de
Jesus para assumir um compromisso radical com os seus semelhantes era mais do
que o homem estava disposto a dar e, apesar de estar triste, ele vai embora.
Observe
que Jesus muda o que é chamado de “herança” para o homem que vende seus bens e
dá aos pobres. Jesus não diz que ganhará a vida eterna, mas sim que terá “um
tesouro no céu”. Talvez já percebendo o status social e a classe do homem,
Jesus lhe ofereça algo pelo qual ele tem um apego pessoal: o tesouro. Mas o tesouro celestial não é suficiente para
afastá-lo da sua vida de homem rico.
Aqui Pe. Júlio
aponta a ligação com o homem possuído por demônios e o leproso. Ambos foram a
Jesus em busca de cura. Em contraste, este homem não percebeu a necessidade de
cura, mas, habituado a uma vida de privilégios, procurava como garantir um
status privilegiado na próxima vida.
Dizem-nos
que os discípulos de Jesus, que testemunharam este encontro,
ficaram maravilhados. Jesus aproveita esta oportunidade para lhes dizer que
embora “todas as coisas sejam possíveis para Deus”, “quão difícil é para
aqueles que têm riqueza entrar no Reino de Deus!” “É mais fácil”, explica ele,
“um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de
Deus”.